Tudo o que você não sabia sobre um passeio perfeito

Tudo o que você não sabia sobre um passeio perfeito

Tudo o que você não sabia sobre um passeio perfeito

É quase um consenso geral quando pedimos pras pessoas visualizarem um passeio perfeito: guia frouxa, cão andando ao lado do condutor, calmo, um passo consistente sem muitas paradas, ignorando latidos, interagindo positivamente com outros cães e pessoas. Diz aí se você também não idealiza isso!

Muita gente inclusive diz que se o seu cãozinho passeasse de forma tranquila e comportada, até desejaria que ele andasse solto, sem guia.

Mas já pensou porque cães puxam a guia, reagem, se agitam e andam em ziguezague? Eles fazem isso porque nós não sabemos ao certo como conduzir e nem como ensiná-los a andar mais tranquilos e relaxados! Por mais que seja algo corriqueiro e comum, não é natural pra espécie ter em seu corpo uma ferramenta que o limita. Quando mal usada, uma guia pode aumentar a frustração do cão e deixá-lo mais ansioso, atrapalha sua comunicação com outros seres tirando-lhe o direito de escolher estar ou não naquela situação entre tantos outros pontos. Não é só colocar e sair, é preciso aprender como usar e com isso, ensinamos nossos cães posteriormente.

O mais importante aqui é entendermos primeiramente sobre como achamos que deveria ser um passeio pro cão e como ele enxerga essa mesma atividade. A maioria das pessoas pensam que o cão precisa ter um lugar pra ficar: uns dizem que deve andar sempre do lado esquerdo, outros que eles não podem passar na nossa frente, uns falam sobre usar uma guia bem curta pra não deixar o cão ficar cheirando tudo e já outros, andam com o cachorro solto. E aí, por onde sigo nesse mar de orientações distintas?

O fato é que passeio pro cão não se define por um exercício físico de caminhada. Eles interagem com o ambiente através do faro, onde exercem o comportamento exploratório. Basicamente, o cão se orienta e anda onde seu nariz o leva.

É importante entender que por conta disso, não é normal pra eles andarem em linha reta, e sempre de um mesmo lado. Ainda, saber disso ajuda a sacar então porque eles ficam cheirando tudo e parando o tempo todo: isso é natural, importante e necessário pra um bom passeio pro cão e não pode ser impedido. Cães interagem com odores variados, mesmo aqueles dos quais a espécie humana sente repulsa, como fezes de outros animais, urina, entre outros.

Por este motivo que não é aconselhado o uso de guias curtas. Quanto menor a guia, mais chances seu cão terá de só passear puxando, já que à depender do comprimento dela, muitas vezes ela fica rígida com o cão tendo dado apenas um passo à sua frente e realmente ficará difícil andar frouxo se não há espaço suficiente pra ele explorar como deveria. Guias devem ter em torno de 1,8 a 2 metros de comprimento. Claro que existem contextos/situações onde o comprimento não permite liberdade mas é possível encurtar uma guia longa trazendo ela mais consigo e liberando onde for mais possível mas uma guia curta não tem como ficar mais longa, não é mesmo?

Atualmente no mercado existem diversos tipos de equipamentos de passeio, inclusive com promessas de serem “anti-puxão“. Mas será mesmo que funcionam? Sim e não.

O princípio do passeio deve ser sempre trabalhar o vínculo com uma comunicação clara e objetiva pro cão e qualquer acessório é mera ferramenta de suporte. O que quero dizer com isso é que é possível criar um excelente treino independente do acessório usado, contanto que ele promova conforto e segurança pro cão em primeiro lugar.

Brevemente falando sobre comportamentos reativos, entenda que questões e reações comportamentais relacionadas ao passeio devem ser tratadas de forma secundária. Se o cão não sabe andar na guia, late muito, se agita antes mesmo de sair de casa, o foco inicial deve ser treinar e ajudar o cão a ter uma saída calma e ainda em casa, aprendermos como conduzir a guia.

Sempre brincamos que assim como adultos precisam aprender aulas de direção pra poder saber conduzir um carro, é preciso que também saibamos mais sobre conduzir a guia de nossos cães e dominar algumas técnicas de manejo seguro na rua pra evitarmos acidentes e claro, pra melhorarmos nosso vínculo e relação com nossos cães também fora de casa. O cachorro aprende a passear como desejamos, mas é preciso também que o tutor aprenda a conduzir e perder vícios.

Por fim, se pensarmos aqui juntos em um passeio perfeito do ponto de vista do cão, ele te diria que seria mais ou menos algo assim:

“Minha guia sempre está frouxa (mal sinto que estou contido, pois ela é leve e longa). No meu corpo tem uma peitoral segura e confortável, pra que numa eventual necessidade de um puxão emergencial (um carro vindo, por exemplo) e eu estou distraído, não me machuque ao contrário do que poderia ocorrer se eu estivesse com algo preso pelo meu pescoço. Meu tutor nunca me coloca em cilada, sempre me ajuda quando percebe que algo me incomodou de algum modo então sabemos sair de situações ruins. Gosto muito de prestar atenção nele, sou constantemente recompensado com petiscos, elogios e atenção.”

Passeio bom é passeio com exploração do entorno. Cães não têm discernimento de certos perigos e não podem ser responsabilizados por seus atos.

Um adulto não prova ser um bom motorista ao dirigir sem cinto. Use sempre a guia ao passear com seu cão.

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Thamires Pacheco

Thamires Pacheco

É comportamentalistas canina desde 2014. Anteriormente auxiliar veterinária, atuante em hospitais e clínicas veterinárias. Juntamente ao noivo, possui a empresa Ludicão Educação e Bem-Estar Canino. Uma das responsáveis pela capacitação de voluntários do Instituto Cão Terapeuta e também da avaliação dos novos cães co-terapeutas. Ministra curso de comunicação e linguagem canina para auxiliares veterinários, monitores de day care, policiais da Guarda Civil de Cotia, além das aulas e consultoria para tutores de cães. Palestrante no PetExperience de 2019 à convite da PetGames. Em 2021 palestra para o COMVEC (Congresso Online de Medicina Veterinária Comportamental de Pets).

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